Para pesquisadores, realidade aumentada é a próxima onda da tecnologia.
Conceito une elementos da realidade virtual a nossa percepção natural.
Leopoldo Godoy Do G1, em São Paulo
Wikitude AR, um dos primeiros produtos de realidade aumentada já disponíveis no mercado. (Foto: Divulgação)
Primeira cena: você liga o seu carro e fala para o computador de bordo que quer ir para o shopping center mais próximo. Como se fosse mágica, o asfalto parece ser pintado por uma linha azul, que indica o caminho ideal. Um aviso piscante no parabrisas recomenda que você diminua a velocidade, pois o motorista à sua frente está freando. Ao passar em frente a uma farmácia, um novo aviso no vidro: de acordo com o computador que controla sua casa, você está precisando comprar aspirinas.
Segunda cena: você está sentado na praça de alimentação do shopping. Cansado de navegar pela internet no celular, você resolve utilizá-lo para ver se alguém que está no shopping gostaria de bater um papo. Você aponta o celular para as pessoas, e, na tela, vê surgir ícones para interagir com elas por redes sociais. Escolha seu “alvo” e o adicione no Orkut.
As duas cenas acima só poderiam existir em filmes de ficção científica, mas em poucos anos elas farão parte de nossa vida. Em breve, acreditam os pesquisadores, nossos sentidos, como visão, audição e olfato, passarão a ser influenciados pelos computadores: seja bem-vindo à era da chamada realidade aumentada.
Veja simulação de como funciona, na prática, a realidade aumentada
Equipamento necessário atualmente para jogar 'Quake' em realidade aumentada vai encolher e ficar mais barato. (Foto: Divulgação)
A realidade aumentada é um campo da computação que estuda a intervenção de dados e informações gráficas geradas eletronicamente com nossa percepção da realidade. E essa fusão de conceitos da realidade virtual com o mundo será a próxima “moda” a ser perseguida pelos consumidores de aparelhos de alta tecnologia, acredita o professor americano Bruce H. Thomas.
“Eu acredito que daqui a 3 ou 5 anos sistemas que utilizam conceitos da realidade aumentada serão onipresentes”, diz Thomas, diretor do laboratório de computação vestível da Universidade do Sul da Austrália. Em seu campo de pesquisa, Thomas estuda a criação de equipamentos eletrônicos que podem ser carregados conosco todo o tempo, e que atuam praticamente de forma “invisível”, sem intervenção humana.
Um de seus projetos é a criação de um óculos capaz de fazer as vezes de um monitor de computador. Transparente, ele permite que você enxergue normalmente, mas veja também informações sobre o ambiente inseridas pelo computador.
Há diversos conceitos tecnológicos utilizados num produto que, descrevendo, parece simples: além do sistema de produção de imagens – a maior aposta no momento é na tecnologia de LEDs orgânicos, os OLEDs --, há também o uso de sistemas de GPS e de acesso sem fio à internet, sem falar nos processadores capazes de gerir essas informações.
Lente sobrepõe imagens àquelas já existentes no mundo externo. (Foto: Divulgação/Universidade de Washington )
Uma versão mais “tosca” destes óculos foi utilizada pelo pesquisador para levar a realidade aumentada para o mundo dos videogames. Pode ser uma atividade considerada banal por muitos, mas os jogos eletrônicos serão um dos campos que mais vão lucrar com a evolução destas tecnologias. Thomas criou uma versão do clássico jogo de tiro Quake, mas usando ambientes reais em vez de salas tridimensionais digitalizadas.
“Imagino que, em breve, poderemos usar esses sistemas para jogos de caça ao tesouro, por exemplo”, afirma o pesquisador. “Você e um grupo de amigos vão ao parque e tentam localizar objetos virtuais, que só é possível enxergar pelos dispositivos especiais. Ou mesmo quebra-cabeças utilizando elementos do mundo real. Há muitas possibilidades.”
Custo
Um dos pioneiros das pesquisas em realidade aumentada, o professor Steven Feiner afirma que a única limitação existente no momento é o custo da tecnologia. “É uma questão de escala, quando houver mais demanda, mais equipamentos serão produzidos a um preço mais competitivo”, afirma.
Realidade aumentada mistura elementos da realidade virtual com o mundo real. (Foto: Divulgação)
Feiner dá como exemplo o fato de que os celulares inteligentes já são responsáveis pelas primeiras aplicações comerciais da realidade aumentada a ficarem ao alcance dos consumidores.
Proprietários de telefones com o sistema operacional Google Android já podem, desde o final de 2008, testar o programa Wikitude AR Travel, um guia que utiliza o GPS, a câmera e a bússola do aparelho para mostrar informações sobre pontos de interesse em diversas cidades. Projetos semelhantes já estão sendo criados para outros modelos de telefones, como o iPhone, da Apple.
A indústria automobilística é outra que já está de olho na realidade aumentada. A alemã BMW já divulgou planos de inserir, no parabrisas, as informações normalmente exibidas no painel do veículo. É um pequeno passo, que ainda segue no mundo das ideias, mas quanto mais avançarem as tecnologias utilizadas na realidade aumentada, mais invisível ficará a linha que separa o que é real e o que é gerado por computadores.