Doris Miranda | Redação CORREIO O cineasta canadense James Cameron, 55 anos, poderia ter parado após Titanic (1997), se quisesse. Não só pela glória de ter a maior bilheteria de todos os tempos, com US$1,8 bilhão arrecadados mundialmente. Mas também porque construiu uma obra forte, atemporal e que conquistou 11 Oscars. James Cameron, porém, é um viciado em trabalho, um artista fascinado pela possibilidade de inovar. Passados 12 anos desde o drama estrelado por Leonardo Di Caprio e Kate Winslet, ele retorna com Avatar, que tem estreia mundial nesta sexta-feira (18).
Veja o trailer do filme mais caro do cinema
No Brasil, são 500 cópias - dubladas e legendadas - em 35mm, mais 110 em 3-D e duasemImax. Nesta quinta-feira (17), em Salvador e em Feira de Santana, haverá pré-estreia em todas as salas, exceto no circuito Saladearte. Um arrasa-quarteirão que chega com a promessa de ser o filme da década. Principalmente no quesito tecnológico, aspecto tratado pelo diretor com muito mais esmero do que qualquer outro colega.
O último grande cineasta na mistura de computação gráfica com atuação real tinha sido Peter Jackson com a trilogia O senhor dos anéis. Cameron foi além, num grau que não se podia imaginar. Nem ele mesmo. A ideia de Avatar lhe surgiu em 1995, mas foi para a gaveta por se tratar do irrealizável. Dez anos depois, ele percebeu que a Weta (empresa de Peter Jackson) já tinha mecanismos para criar uma câmera 3-D estereoscópico que conseguisse capturar com perfeição movimentos reais e transformá- los em animação tão bem feita que o público não fosse capaz de distinguir a realidade da fantasia. “Não é um filme animado, as atuações são capturadas. Não é preciso somente a movimentação dos atores, há também a emoção de alguém”, explica o diretor de Aliens, o Resgate (1986), O segredo do abismo (1989) e O exterminador do futuro 2 (1991).
Seu grande trunfo, além de todo o aparato inédito, é mesmo a câmera especial colocada no rosto do elenco. É por ela que vemos a atuação consistente do australiano Sam Worthington (O exterminador do futuro: A salvação) por baixo do híbrido de humano com o povo Na'Vi, gigantes azuis de três metros que habitam o planeta Pandora. “Agora sei que podemos tirar dos atores suas lindas atuações e preservá-las em personagens criados por computador”, explica James Cameron, que também vai lançar Avatar em versão game.
Ecológico
A trama acompanha a rotina de uma base militar em Pandora, cujo clima é letal para humanos, que, apesar disso, querem extrair as reservas biológicas do local. Para isso, desenvolvem um experimento que mistura o código genético humano ao dos extraterrestres num corpo híbrido, o tal avatar.
Jake Sully (Worthington) é um fuzileiro naval que ficou paraplégico em serviço e que, ao perder o irmão e a esperança, se alista no programa de avatares, chefiado pela médica Grace Augustine (Sigourney Weaver). Com a consciência relocada num corpo supercapacitado, Jake vai funcionar como ponte entre os Na'Vi e os humanos. Mas, uma vez Na'Vi, ele não consegue resistir ao código de ética daquele povo, que luta para preservar sua biodiversidade, a ponto de considerá-la sagrada.
Pelos olhos de Sully, o espectador vai caindo de amores pelas florestas luxuriantes, dotadas de um colorido quase lisérgico, pelas criaturas só vistas em filmes de aventura e pela força da princesa Neytiti (Zoe Saldaña), com quem ele se envolve.
Mergulhador fanático, militante da harmonia e das causas verdes, embora tenha também fama de chefe tirano, Cameron construiu seu próprio manifesto em favor da preservação do meio ambiente. “Sou um filho dos anos 1960, há uma parte de mim que quer pôr uma margarida em cada cano de arma. Acredito na paz através de superioridade militar mas, por outro lado, abomino o abuso de poder e o imperialismo repulsivo disfarçado de patriotismo”, justifica.
Grana alta
Avatar, que acaba de receber duas indicações ao Globo de Ouro (filme e diretor), já chega às telas com um recorde: é o filme mais caro da história do cinema. Oficialmente, são US$237 milhões. Mas, segundo informações do jornal Los Angeles Times, a quantia pula para US$310 milhões, dinheirama utilizada somente para a produção. Ao somar o investimento em divulgação e marketing, o orçamento geral entra na casa dos US$500 milhões. É muito dinheiro, de fato.
Mas Cameron certamente utilizou seu prestígio para consegui-lo. Afinal, foi o primeiro diretor a gastar mais de US$100 milhões em um filme, com O exterminador do futuro 2, que exibia maravilhosos efeitos especiais em 1991. Foi também pioneiro em estourar um orçamento de US$200 milhões com Titanic, cujo retorno ainda não foi superado até hoje. Como na época ninguém sabia disso, reza a lenda que ele teve que mandar às favas meia dúzia de executivos por duvidar de seu trabalho. Ainda assim, o filme só saiu por que o diretor abriu mão de seu salário.
Continuação
Muitos gritos também devem ter ouvido seus funcionários, já que é histórico o mau gênio do diretor. Se contar somente os dois anos que passaram sincronizando as expressões dos atores com a dos personagens de animação, dá para se ter uma ideia. “Esse sempre foi meu maior objetivo, ver os atores por trás da animação, por isso trabalhamos tanto”, resume ele, que não descarta continuação para Avatar.
“Gastamos milhões de dólares e muito tempo desenvolvendo não apenas o processo, mas todo o universo apresentado. Faz sentido pensar no filme como sendo o potencial início de uma saga. Já visualizei isso, mas ainda não escrevi os roteiros. Desde o início, era essa a intenção: criar as bases para um mundo permanente”, diz.
Talvez, o público tenha que esperar um pouco até uma sequência. Cameron já está envolvido com Battle Angel, adaptação do mangá de Yukito Kishiro. Depois, quer refilmar Viagem fantástica, estrelado em 1966 por Rachel Welch. O bom é que ele sabe que agora nada lhe é impossível.
A história do filme é poderosa
Não há como negar: Avatar já nasce como um clássico. E muito maior do que Titanic, uma das mais bem realizadas produções de Hollywood. Sim, há, claro, os efeitos especiais sensacionais que, assim como em Matrix (1999), deverão dar uma nova guinada na indústria do cinema. Mas não é só isso que conta para que Avatar entre definitivamente no rol das grandes obras. Há magia transbordando nas entrelinhas, uma história bem contada e um cuidado tão grande com a realização que fica difícil o espectador não se envolver de maneira integral - sendo a exibiçãoem 3-D ou não.
Apesar do texto simples e dos padrões comuns a outras obras de Cameron (mocinhas fortes, pessoas de caráter duvidoso em relação ao seu meio e um romance açucarado), o filme possui também uma mensagem ecológica poderosa, apresentada em primeiro plano, sem firulas narrativas e ainda assim muito eficiente.
Há momentos de profunda beleza, como o primeiro voo de Jake e Neytiri, marco no processo de (auto) conhecimento de ambos.Muitos pontos também para as atuações de Sam Worthington e Zoe Saldaña, atores que deverão tornar-se bem mais conhecidos a partir de agora.
Filmes mais caros
1 Avatar (James Cameron/2009)
US$310 milhões
2 Piratas do Caribe - No fim do mundo (Gore Verbinski/2007)
US$300 milhões
3 Homem Aranha 3 (Sam Raimi/2007)
US$258 milhões
4 Harry Potter e o Enigma do Príncipe (David Yates/2009)
US$250 milhões
5 Titanic (James Cameron/1997)
US$247 milhões
6 Waterworld - O segredo das águas (Kevin Reynolds/1995)
US$238 milhões
7 As crônicas de Nárnia: O príncipe Caspian (Andrew Adamson/2008) US$225 milhões
8 Piratas do Caribe: O baú da morte (Gore Verbinski/2006)
US$225 milhões
9 O exterminador do futuro 3 - A rebelião das máquinas
US$216 milhões
10 X-Men: O confronto final (Brett Ratner/2006)
US$210 milhões
FONTE: Internet Movie Database (IMDb), Wikipedia, Terra Cinema e Cinefilóides (cinefiloides.blogspot. com)