30/03/09 - 07h00 - Atualizado em 30/03/09 - 08h24
Fanático pela banda até 2005, Marcos Motolo tem o corpo inteiro tatuado.
Convertido após uma 'visão', ele diz agora que é capaz de fazer milagres.
O autoproclamado fã número 1 do Iron Maiden mora em um sobrado humilde no bairro de Itaquera, zona leste de São Paulo. Fanático pelos metaleiros desde a década de 1980, Marcos Motolo, 36, diz ter feito 172 tatuagens da banda por todo o corpo e, como se o feito não bastasse para provar sua devoção, ainda registrou o filho de dez anos como Steve Harris em homenagem ao lendário baixista do grupo. Mas, da turnê recente do Maiden pelo país - que se encerra nesta terça com um show em Recife -, Motolo conta que não conseguiu ver nenhum show. Estava ocupado demais pregando a palavra de Cristo como pastor evangélico.
Personagem do documentário "Flight 666", filme oficial da banda britânica de heavy metal que tem estreia nos cinemas prevista para o mês que vem, o pastor metaleiro não renega o seu passado. Em vez disso, tem usado sua história pessoal para "semear no deserto", ou ainda, "levar a palavra de Deus às pessoas que não estão preocupadas com isso".
Editoria de arte G1
Em um culto evangélico realizado há dez dias, em Suzano, município da Grande São Paulo, vestindo um terno preto que cobria algumas mas não todas as tatuagens, Motolo intercalava com desenvoltura versículos da Bíblia com a promoção de sua participação no documentário internacional. "Será a primeira vez que a palavra de Cristo vai chegar a países como a China ou a Rússia", prometia entre "glórias" e "aleluias" aos fiéis, muitos dos quais provavelmente jamais haviam ouvido falar de Iron Maiden - muito menos da temática demoníaca de muitas das letras da banda.
Convertido há apenas quatro anos, Motolo não vê problemas na mistura do sagrado e do profano. "O interessante é você saber diferenciar cultura de religião. Se a pessoa é evangélica e toca numa banda de rock, ela não precisa parar de tocar. Mesmo que [a banda] fale de Satã. Aquilo é a profissão dela, lá ela é empregada", defendeu o pastor e missionário - termo usado àqueles que não pregam apenas em uma única igreja - em entrevista ao G1 pouco antes do início da pregação.
"Se a pessoa souber curtir o heavy metal ou qualquer coisa, pode ser até funk ou futebol, sem se envolver em coisas que destruam sua saúde, é bom. Os caras do Iron Maiden, por exemplo, são inteligentes. Eles tocam heavy metal, mas quando o show acaba, eles vão tomar um Gatorade ou um suco. É por isso que estão vivos até hoje. Já o Nirvana fez dois anos de sucesso e o vocalista se matou. Por quê? Porque ele não soube diferenciar a vida particular dele da vida em cima do palco", teoriza.
White metal
À primeira vista pode parecer estranho, mas a aproximação entre o rock pesado e os movimentos cristãos não é novidade. Não fosse pelas letras de louvor a Jesus, a banda australiana de white metal Mortification poderia ser facilmente confundida com o Sepultura. No Brasil, há bandas de rock evangélicas como a Oficina G3 e uma igreja dedicada especialmente a acolher tatuados, roqueiros e surfistas convertidos, a Bola de Neve Church. Até o performático Alice Cooper, um dos pioneiros em levar o horror aos palcos, investiu recentemente parte de seu dinheiro na construção de um centro cristão de reabilitação de jovens na cidade de Phoenix, no Arizona.
"A maldição só existe quando você acredita nela", defende Motolo, que entre as marcas no corpo tem inscrições de 666 - "o número da Besta" -, diversas versões do monstro Eddie, o mascote do Iron Maiden, e algumas imagens de guerra e mutilação que fariam arrepiar os cabelos de fiéis mais ortodoxos. "Eu não acredito que nada que eu tenha venha me prejudicar de alguma forma. A Bíblia fala que nenhuma condenação existe quando a pessoa encontra Cristo. Por isso que você vê muito ex-matador, ex-traficante ou ex-roqueiro que vira pastor. Semana retrasada um grande líder dos Carecas do Subúrbio [tradicional gangue paulista de neonazistas] voltou para a igreja", afirma.
Detalhe da capa do disco 'The number of the beast', exemplo do flerte com a temática satânica do Iron Maiden (Foto: Reprodução)
No princípio era o rock
Filho de pais religiosos, o pastor diz que nunca havia lido os evangelhos até a sua conversão, em 2005. Como boa parte dos adolescentes brasileiros apaixonados por música nos anos 80, sua bíblia sagrada de então era a revista "Bizz". Foi lá que leu pela primeira vez nomes como Beatles, Raul Seixas, Blitz, RPM e, claro, Iron Maiden. "Eu era criança, mas acabava enrolando meus pais. A 'Bizz' sempre tinha umas coisas mais leves na capa, mas atrás tinha uma página de venda de camisetas com vários desenhos do Iron Maiden, que me chamavam muita atenção. Para mim, o mais bonito era de um single chamado 'Aces high'. Na frente, tinha o Eddie pilotando um avião todo baleado, dilacerado, e atrás estavam outros Eddies, riscados, que já tinham morrido naquele combate", lembra.
Depois de ler uma entrevista publicada em 1982, Motolo ficou fissurado pela banda. Passou a gastar toda a mesada comprando os discos em vinil do grupo, que ouvia em uma vitrola portátil. "Eu 'tocava' as músicas do Iron Maiden. Pegava o cabo da vassoura e começava a agitar. Hoje o pessoal faz air guitar, eu tocava guitarra com vassoura!", diverte-se.
Pouco depois, fundou um fã-clube chamado Piece of Maiden, que reunia outros fanáticos pela “donzela de ferro” – um dos apelidos pelo qual o Iron Maiden é conhecido. “Ele era completamente alucinado pela banda, uma coisa meio patológica até”, recorda Fernando de Sousa Pinto, ex-editor da revista “Rock Brigade”, uma das primeiras a publicar uma reportagem sobre Motolo. “Também fui fã desde a adolescência, mas nunca imaginei fazer nem 10% do que ele fazia pela banda.”
A idolatria incluía até leituras "satânicas", sempre à procura das referências citadas nas músicas do Maiden, do bruxo Aleister Crowley às obras do escritor de horror HP Lovecraft. "Eu entrava em cemitério de noite, via filme de terror, subia na caixa d'água da escola para ver o Sol nascer. Tudo o que era proibido agradava. Mas eram peraltices que não eram agressivas. Eu preferia entrar no cemitério ou subir em caixa d'água do que colocar uma arma na cintura e sair por aí matando. A gente não agredia ninguém. Se viesse a ter algum mal, seria contra nós mesmos", justifica.
Gravada no peito, a primeira tatuagem foi inspirada na capa do disco 'Piece of mind', de 1983, o favorito do pastor metaleiro. 'Quando mexo o corpo, o Eddie tenta se libertar das correntes', explica. (Foto: Reprodução/G1)
Pele à venda
A primeira tatuagem - o Eddie do disco "Piece of mind", gravado no peito - foi feita em 1999 e, dali em diante, relata Motolo, foram seis anos de sessões diárias até chegar às 172 que diz ter feito no total. A contagem, no entanto, obedece a um método peculiar: cada letra ou objeto diferente riscado no corpo ele considera uma tatuagem.
Motolo conta ainda que chegou a ser contatado por um membro da Yakuza, interessado em comprar a sua pele tatuada por algumas dezenas de milhões dólares. Relatos sobre o mercado de compra e venda de pele ligados à máfia japonesa não são inéditos, mas geralmente são difíceis de se comprovar.
“A gente ouve falar disso, mas estamos falando de máfia. Não acho que ela vá dar o dinheiro e esperar que a pessoa seja metralhada ou encontrada morta e leve o dinheiro deles embora”, opina Roger Vieira, tatuador de São Miguel Paulista que fez a primeira tatuagem em Motolo. “Às vezes aparecem aproveitadores, mas, nos 25 anos em que eu venho trabalhando com tatuagem, nunca conheci ninguém que tenha vendido a pele.”
O pastor, no entanto, sustenta sua versão e diz que estava prestes a fechar o negócio, quando teve a visão que mudaria sua vida para sempre.
"No dia 10 de abril de 2005, eu estava deitado na minha casa, muito preocupado porque eu ia fazer a última tatuagem. Ia tomar uma anestesia e ficar 48 horas desacordado para tatuar embaixo das unhas. De madrugada me faltou sono, e eu tive uma visão em que um homem de fogo apareceu e falou para mim que eu não teria nem fama nem dinheiro, mas que, a partir daquele dia, ele ia me levar para os quatro cantos da Terra e, onde eu colocasse meus pés, as pessoas seriam transformadas pelo poder de Deus", conta."E aconteceu. Desde então, dois mortos com óbito já ressuscitaram, um câncer de 9 cm sumiu de dentro do ventre de uma moça, paralítico anda, cego vê, mudo fala e escuta através do poder da palavra de Deus."
172 – 8 = 164
Convidado pela irmã, também evangélica, para dar seu testemunho na igreja, Motolo se converteu. "Eu nunca tinha lido a Bíblia na minha vida. A partir daquele momento a Bíblia inteira apareceu na minha mente. Eu não leio a Bíblia, nunca li. Eu abro a Bíblia e Deus me revela o que aconteceu na vida de qualquer pessoa ali dentro."
A pele do pastor inclui diversas versões do monstro Eddie, o mascote do Iron Maiden, e até inscrições do número 666. Segundo Motolo, oito delas desapareceram 'por milagre' (Foto: Reprodução/G1)
Mas a lista de milagres que Motolo diz ter experimentado não para por aí. Na mesma profética visão de abril de 2005, o pastor diz ter ouvido de Deus que “seria imortal na Terra até que todas as tatuagens desaparecessem”. “E, por milagre, oito tatuagens já se apagaram do meu corpo. Agora tenho 164”, afirma.
Nesse ritmo, vai viver até quando, pergunta a reportagem? "Com Deus é um mistério. Pode desaparecer tudo num só dia ou pode demorar um pouco mais. Mas elas estão sumindo gradualmente, devagarinho...", insiste.
Desconfiado, o tatuador de Motolo volta a ponderar. “Ele voltou aqui depois que virou pastor. Eu não vi nada apagando, mas se for mal feita, em cinco anos, começa a desparecer uma boa parte mesmo.”
Prova de fé
Ceticismo não é uma novidade na vida do pastor metaleiro. Mesmo entre a comunidade evangélica, ele diz que muitas vezes enfrenta resistência. "Até hoje, de alguma forma, as pessoas me olham com um olho aberto e outro fechado. O pastor Marcos Motolo aceitou Jesus de verdade? Por que ele participa do filme do Iron Maiden? Por que ele dá entrevista sem camisa e mostra as tatuagens? Algumas pessoas talvez não teriam coragem de deixar um novo convertido pregar em grandes conferências. Ficam com medo de acontecer alguma coisa, de eu voltar atrás e de o ministério deles ser envergonhado", reconhece.
O que é que leva uma pessoa a fazer uma tatuagem, meu deus?
ResponderExcluirCOISA DE MALUUUUCOOOOOO.
Eu JAMAIS faria uma. EUHEUHEUHEUHEUHEUE
Enfim, cortando o sarcasmo e a ironia, tirando a parte de vender a pele à Yakuza, preferia ele fã do Iron.
Existe uma estatística: 1% dos habitantes do planeta são psicopatas. (falo mais disso,com exemplos, inclusive, no meu último post. vale uma olhada no meu blog). Trocar o Heavy Metal pela pregação é algo que não consgo comprender. Embora não goste, até compreendo as tatuagens, mas não a Igreja protestante e o que ela tem se tornado nos nossos dias. No Brasil, líderes religiosos têm passaporte diplomático, o que gera situações curiosas. Edir Macêdo, dono da IURD, outro dia, tentou embarcar no seu avião, ou melhor, num dos 4, depois de descer direto de seu helicóptero. Os fiscais federais não deixaram. Valha-nos a lei. Mas é esse o sonho de todo pastor. Não sei o que moveu este suposto visionário.
ResponderExcluirGostei do blog.
Retornarei frequentemente.
Abraços,
Gabriel
Como pode um pastor realizar milagres e participar de um filme de uma banda que é completamente contrária à bíblia ? A palavra de Deus nos diz o seguinte :"Ou servireis a Deus ou a Mamom".Mamom era um deus da época...o q se vê aqui é um tremendo absurdo.Meu comentário é apenas para expressar minha vergonha e nojo de falsos crente como este pastor.Peço a Deus misericórdia da vida dele,pq infelizmente eu não tenho...como pode ele dizer que não tem problema uma pessoa ser crente e tocar numa banda mesmo q fale o nome de satã? ah!pelo amor de Deus pastor, vá se converter primeiro de verdade antes de se entitular servo do Deus vivo.Se a pessoa é convertida de verdade ela não pode servir a dois senhores, se vc conhece a bíblia sabe q este versículo está lá.Estou revoltada com a vergonha q este pastor faz todos nós evangélicos de verdade passar.O nome de Deus está sendo envergonhado por causa dos falsos profetas.Pastor que é pastor diferencia o santo do profano, isso é bíblico, não sou eu que estou dizendo.Se para este pastor ser pastor e ao mesmo tempo participar de um filme que dá ibope pra satanás é melhor q ele deixe o ministério.decida hoje a quem vc quer servir, ou vc é quente ou vc é frio, se for morno, ou seja, se ficar "em cima do muro" Deus vai te vomitar da boca dele.
ResponderExcluirfica na paz pastor, que Deus tenha misericórdia da sua vida.
Rapaz...
ResponderExcluirEsse cara é picareta com toda a certeza. Vender a pele a Yazuka? Que lenda da porra. Me diga, que merda que a Yazuka vai querer com a pele dele? Vai botar numa parede? O povo adora criar esse tipo de mito estrambólico.
Outra coisa, as tatuagens estão sumindo? E isso é milagre? Hhuahuahuahuahauhauhauhauhauahua. Na moral, me passe uma garapa...